Uma Mulher no Terreiro
outubro 06, 2019
Uma Mulher no Terreiro
‘Causo’ escrito por Manoel
Lourenço *
Já falei aqui em outros causos sobre o saudoso Luiz Antonio,
um dos homens mais inteligentes que conheci. Ele pouco frequentou a escola,
aprendeu, como gostava de dizer, na faculdade da vida.
Luiz era cantador de viola e um exímio charadista; aprendi
muito com ele; tinha uma capacidade incrível, tanto de construir charadas, como
de matá-las; era um charadista diferenciado.
Outro dia, em um de nossos muitos encontros, quase sempre, na
"praça da rural", aqui em Mossoró, ele contou-me, com detalhes, uma
de suas muitas histórias, com realce para uma resposta à pergunta de um amigo,
que julgo ter colhido uma das respostas mais inteligentes que tive
conhecimento.
Como cantador de viola, Luiz se via obrigado a se ausentar,
com muita frequência, de sua casa, nesse período, no vizinho estado da Paraíba,
pra fazer cantoria em outras cidades, até em outros estados.
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Sua esposa à época, com quem ele tinha seríssimos problemas
de relacionamento, culminando, tempos depois, com uma inevitável separação,
ficava sozinha e aproveitava o tempo de menos trabalho pra frequentar um
terreiro de umbanda, na periferia da cidade.
Um amigo de Luiz, que morava próximo ao terreiro em questão,
via com muita frequência a esposa do amigo naquele ambiente e começou a se
questionar se Luiz tinha conhecimento daquela situação, afinal, julgava aquele
comportamento alheio ao dia a dia do casal.
Como sabemos, é muito comum, ainda hoje, as pessoas
desconhecerem a palavra mediunidade.
Sempre ouvimos as pessoas falarem que, quem possui o dom
sobrenatural de se comunicar com os espíritos, é média, se do sexo feminino ou médio,
se do masculino.
O amigo de Luiz, depois de muito relutar, resolveu chamá-lo
pra uma conversa.
Após fazer um rodeio gigante, mostrando que sabia que nem
deveria entrar nesse assunto mas, em nome de sua amizade resolveu tirar essa
história a limpo e para, definitivamente, dizer a Luiz que sua esposa
frequentava um terreiro de macumba, achou melhor, primeiro, perguntar sobre sua
religião, afinal, ela poderia estar ali, simplesmente, por algum parentesco com
alguém da casa ou coisa que o valha.
- Amigo Luiz, faz tempo que eu tento arranjar uma maneira de
fazer uma pergunta a você e somente hoje tive coragem; me diga uma coisa:
- Sua mulher é média?
Luiz, que já vinha de casa depois de uma séria discussão com
a esposa e já arquitetando separar os panos, respondeu na bucha:
- Ela né média,
não, ela é ruim, mesmo!!!
* Manoel Lourenço,
técnico agrícola aposentado e atualmente um contador de 'causos'
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