Operação Forró: MPF denuncia delegado da Polícia Civil por envolvimento com quadrilha
maio 22, 2019
O Ministério Público Federal (MPF) denunciou o delegado
aposentado da Polícia Civil, Sílvio Fernando Nunes Silva, por receber propina
de dois grupos investigados pela operação Forró, ligados à exploração de jogos
de azar com uso de máquinas eletrônicas (os chamados caça-níqueis) montadas com
componentes de importação proibida. Em troca, ele permitia a continuidade das
atividades ilegais. Agora poderá responder pelos crimes de corrupção passiva,
lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.
O dinheiro - pelo menos R$ 58.170 - era recebido em espécie
e acabava depositado em sua conta, de forma fracionada para tentar fugir aos
mecanismos de controle. Os valores foram recebidos entre setembro de 2011 e
abril de 2013, quando Sílvio Fernando era titular da Delegacia Especializada em
Defesa do Consumidor (Decon), que incorporou as funções da Delegacia
Especializada em Costumes (DEC), responsável pela repressão aos jogos de azar.
A Justiça Federal já determinou a indisponibilidade de bens do réu, até a
quantia de R$ 58.170.
Dos demais envolvidos, o MPF aponta a relação direta dele
com, pelo menos, o policial militar reformado José Anselmo Soares Filho e o seu
amigo Wagner Miguel de Araújo Galvão, conhecido como ‘Novinho do Gás’. Os dois
ajudavam a dar proteção ao “grupo dos cariocas” e ao “grupo de Paulinho”, que
mantinham diversos pontos de jogos de azar na capital potiguar.
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Ambos serviam de intermediários do delegado e cobravam uma
média de R$ 3 mil por semana de cada um dos grupos.
Em 2013, a movimentação financeira do delegado foi mais que
o dobro de seus rendimentos líquidos recebidos formalmente da Polícia Civil.
A participação do delegado no esquema foi apontada por um
dos líderes do grupo dos cariocas, Eduardo Madureira, em acordo de colaboração
premiada. Segundo ele, pelo recebimento das propinas o titular da Decon ficou
conhecido como “Sílvio Sacolinha”. Foram autorizados, então, o afastamento dos
sigilos fiscal e bancário e a análise dos dados revelou que Sílvio
“efetivamente se associou, de modo estável e permanente” aos dois grupos
criminosos.
Eduardo relatou um encontro no estacionamento de um shopping
de Natal para tratar do pagamento de propina, do qual o próprio delegado
participou. Na ocasião foram cobrados R$ 7 mil para a abertura de uma nova casa
de jogos, além da quantia semanal. Somado a conversas telefônicas interceptadas
pela operação Forró (deflagrada em dezembro de 2013), Sílvio Fernando também é
citado direta ou indiretamente em várias mensagens de celular trocadas pelos
demais criminosos.
Em uma dessas mensagens, eles falam de operações de combate
promovidas por outras delegacias e indicam que as ações eram consideradas uma
forma de “desmoralizar Sílvio”. Algumas vezes as ações eram da própria Decon,
contudo serviam mais como forma de pressão para garantir que as propinas
continuassem a ser repassadas. Nesses casos, não eram adotadas todas as
providências devidas. O delegado lavrava simples termos circunstanciados de
ocorrência e deixava de apurar a provável prática do crime de contrabando, não
enviando os equipamentos para perícia e muito menos tomando medidas para
remessa dos elementos à Polícia Federal ou à Justiça Federal
Os envolvidos chegaram a lamentar a saída de Sílvio da
delegacia, em 2013, o que dificultou o andamento dos “negócios” dos dois
grupos. Há conversações, inclusive, no sentido de buscar algum nome que
permitisse a continuidade do esquema de propina, já que com o delegado que
tomou o seu lugar não “teria esquema”. Os criminosos reclamam que o novo
titular teria dito que “vai atrás de tudo” e “falou que vai moralizar a
delegacia”. Também há diálogos lamentando os pedidos recorrentes para que a
propina paga fosse aumentada. Chegou a se cobrar um valor de R$ 6 mil semanais
de cada grupo, para que nenhuma casa de jogos fosse reprimida.
A proximidade de Sílvio com Wagner Miguel também ficou
clara. Em um computador deste, apreendido pela ‘Operação Forró’, foi encontrado
arquivo contendo planilhas de 2009 em que constam pagamentos ao lado da menção:
“moto Dr. Silvio”. O delegado declarou que nunca teve uma motocicleta, porém as
investigações do MPF demonstraram que, na época e até hoje, existia e existe
uma cadastrada em seu nome. Diversos cheques de Sílvio, totalizando R$ 6 mil,
também foram emitidos para a empresa de “Novinho do Gás”, mantido em nome de
sua sobrinha.
Além da condenação pelos crimes, o MPF requer o pagamento de
danos morais causados por suas condutas, “especialmente à imagem da Polícia
Civil do Rio Grande do Norte”, em um valor mínimo de R$ 58 mil, atualizado com
juros e correção monetária; assim como a decretação da perda de sua
aposentadoria.
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