Tudo na Santa Paz *

julho 19, 2020

* Manoel Lourenço / Emater/RN

Titico, Raimundão, Biró e Eronildes. Os membros desse quarteto, mudaram em tempos diferentes, de Serra: saíram da Negra para a do Mel.

Titico, o mais velho, conta a melhor história; chegou a Serra do Mel na década de 1970, quando ainda estavam desmatando para implantação do Projeto de Colonização no governo de Cortez Pereira, que até hoje é reconhecido como o mais ousado projeto de todo Brasil.

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Titico, além de ter contribuído para a construção de Serra do Mel, ganhou a condição de colono e contribuiu com seus conhecimentos, como vereador da cidade.

Muitos filhos, seus e de seus irmãos, casaram-se com membros de outras famílias da Serra e hoje temos muitos de seus descendentes contribuindo com o desenvolvimento daquele e de outros municípios do Rio Grande do Norte, nos seguimentos da saúde, educação, desporto, bancário, segurança, enfim, é uma família muito querida por todos.

Quando ainda moravam em Serra Negra do Norte, Titico e seus irmãos viviam da agricultura, ajudando àquela importante cidade do Rio Grande do Norte.

Titico tinha um primo - Severino -, que era conhecido pela sua paciência; nada nesse mundo conseguia mudar seu comportamento.

Era um homem extremamente monossilábico, só respondia, com pouquíssimas palavras o que lhe fosse perguntado, sempre procurando nunca deixar brechas para outras perguntas.

Outro dia Severino saiu com Raimundo, seu primo, para um forrozinho numa comunidade a alguns quilômetros dali.

Era praxe eles saírem para os forrós na região e voltarem antes das 4 horas da manhã do outro dia para ajudarem na ordenha e outros afazeres no sítio.

5 horas da matina e os dois não haviam ainda chegado, o que, evidentemente, começou a gerar algumas preocupações, que pesavam pouco em função do comportamento pacífico da dupla.

Somente às 6 horas, a distância a poderam ver Severino, montado em seu burro, tomar chegada à casa e, claro, chamando atenção pela ausência do companheiro de farra.

O que, mesmo, teria acontecido a seu companheiro Raimundo era uma coisa que só ele poderia contar.

O tamanho da curiosidade da família era inversamente proporcional à preocupação de Severino, que deixava os passos lentos de seu animal aumentar a curiosidade da ausência do companheiro.

Ao chegar à casa, Severino desceu de seu animal, lentamente, sob o silêncio sepulcral dos presentes, ávidos por uma resposta que desfizesse aquele mal presságio.

Pôs um dos pés num banco e baixando-se para retirar as esporas, ouviu de um dos presentes, que não mais suportava o desconhecimento da ausência do companheiro de Severino:

- Severino, pelo amor de Deus, ômi!!!...diga logo o que aconteceu que você voltou sozinho, cadê Raimundo, ômi???!!!

Severino, descendo o abanhado da calça, para retirar a poeira deixada pelo piso do salão, disse, sem esboçar nenhuma reação de pressa:

- Mataram Raimundo.

Manoel Lourenço
Emater/RN

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