O carro é uma “boneca”

julho 12, 2020

O carro é uma “boneca” *

* Manoel Lourenço / Emater/RN

Quando o colega Anchieta Martins assumiu a prefeitura de Serra do Mel em 1993, nomeou Canindé Maia como Secretário Municipal de Agricultura e Lírio Martins, José Targino e José Maria, à nossa disposição na Emater local, para fazermos o trabalho de extensão rural no município.

Os quatro engenheiros agrônomos, colonos da vila Amazonas e ligados à Secretaria de Educação, como professores naquele município Potiguar.

Foi um casamento perfeito, vez que eles, como produtores de caju, tinham know how, e ajudaram com muita eficiência na condução da assistência técnica aos produtores rurais.

O lote de Targino estava entregue à responsabilidade de seu sogro e do folclórico Galego, seu cunhado, que cuidavam com muito zelo.

Galego era uma espécie de faz-tudo, sem ele as coisas não fluíam, era ele que dava notícia de tudo, comprava, vendia, e tinha uma particularidade: conversava pelos cotovelos.

Para Galego nada era ruim, para isso ele usava aqueles argumentos que faziam o bode tomar banho de chuva.

Em fins de semana era comum a gente ir para Vila Amazonas para a casa de Targino, apreciar o irresistível feijão de corda com toucinho que o velho fazia; claro que a gente traçava algumas caebas enquanto "apurava" os fatos engraçadas que se nos apresentavam na semana.

Os agrônomos tinham plano de comprar um transporte para fazerem o deslocamento diário para o trabalho; não estavam satisfeitos com o desgaste de seus carros no deslocamento diário.

Ao ouvir a discussão, logo uma figura entrou em cena: Galego, já se dispôs a procurar esse carro, recebendo da equipe, sob os risos disfarçados, alguns requisitos básicos norteadores, como um carro usado, com preço compatível com a equipe, carro da região, sem multa, enfim, um carro que atendesse às necessidades já expostas.

Na verdade, a atribuição a Galego tinha um cunho hilário, o que se queria mesmo era ver o desfecho do negócio que, com certeza, seria movido a muitas conversas engraçadas.

Quinze dias depois, Galego já tinha encontrado o carro e, por ocasião de nossa "mesa redonda" movida a caeba, com o auxílio do feijão de corda, Galego pediu a palavra e fez sua explanação sobre o carro que encontrara:
- Dedé, (era por esse nome que ele chamava seu cunhado - Targino), eu encontrei o carro que vocês estão procurando.

Criou-se um silêncio total para ouvir o depoimento de Galego; a turma estava preparada para dar vazão à sua imaginação. Ouvimos atentamente as características do produto a ser adquirido:

- Dedé, o carro é um chevetim, uma "boneca", do jeito que você é zeloso, se você colocar um parachoquezinho invocado, uns faróis daqueles da moda, uma cobertura nos bancos, dois limpadores de parabriza daqueles bem ligeiro!!!...Dedé, eu não vou dizer que não tem um servicim de motor, porque tem, mas o carro é uma "boneca".

Targino alimentando a ideia do cunhado, se passando por animado, perguntou:

- Galego, qual é a cor do carro?

- Dedé, eu num tô dizendo que o carro é uma "boneca"!!!, esse negócio de carro velho sempre tem coisa pra gente fazer, o carro eu acho que era amarelinho..., aquilo a gente dando uma pinturazinha, chega fica espelhando; num tô dizendo que o carro é uma "boneca", ômi!!!... Eu pedi pra ligar o bichim, mas ele disse que tá com a bateria arriada, mas aquilo é coisinha besta, o carro é uma "boneca"!!!.

- Quanto é esse carro, Galego?

- Dedé, é baratim, ômi, ele me disse que fazia qualquer negócio, um carro daquele a gente ajeitando o que precisa, é negoção, ômi...!!!

Targino, sob o olhar dos presentes, cada um segurando o riso, adiantou:

- Galego, diante do que você está dizendo, pode se preparar que, amanhã, cedinho, a gente vai lá dá uma olhadinha nesse carro e eu já vou levando uma corda pra gente rebocá-lo até a oficina perto de minha casa.

- Tá certo, Dedé, lembre pra gente levar uma chave de roda e passar na borracharia de Aurino pra eu pedir pra ele me arranjar quatro pneus velhos!!!...

Manoel Lourenço
Emater/RN
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