Uma ligação diferente *

Agenorzinho, como algumas pessoas o chama, é o tipo de agricultor familiar da ala dos polivalentes.

Ele é como dizem os donos de circos pequenos que sobrevivem à custa dos esforços de seus donos: Pequeno no tamanho, mas grande na sua apresentação.

Agenor, ao mesmo tempo que se dedica ao cajueiro, principal cultura de Serra do Mel, cuida do cultivo de culturas de subsistência, cria abelhas africanizadas, fabricando suas caixas, obedecendo às medidas do modelo Langstroth, é beneficiador artesanal de castanha de caju e ainda fabrica carroça pra ninguém botar defeito.

Agenor ficou conhecido em Serra do Mel pela quantidade de filhos: tem 16 vivos.

Quando alguém pergunta pelo nome de todos, ele, num gesto de brincadeira, convoca dona Inez - sua esposa -, para lhe ajudar:

- Vamos, Inez, eu digo o nome começando pelo mais novo e você diz começando pelo mais velho e a gente se encontra no meio.

Outro dia conversando com ele sobre a quantidade de filhos que os casais de antigamente tinham, fizemos um paralelo com os casais de hoje, que, geralmente, não têm mais de dois filhos.

- Seu Agenor, minha mãe também teve muitos filhos; lá em casa nós somos 10 irmãos. Se fosse hoje, com certeza, minha mãe teria "ligado" logo cedo.

Fiquei muito surpreso quando ouvi de Agenor que prontamente me alertou:

- Meu amigo, pois eu não esperei nem ter filhos; assim que nós casamos a primeira coisa que fiz foi chamar a mulher e combinar logo de fazer essa ligação.

De imediato fiquei com o pé atrás, logo imaginei que sua esposa atual era fruto de um segundo casamento.

- Seu Agenor, eu sei que é até falta de educação, mas como dizemos no interior, quem pergunta, quer saber:

- O senhor disse que quando casou cuidou de "ligar" a mulher, e como foi isso, amigo, que vocês tiveram 16 filhos?

Agenor, satisfeito pela oportunidade de poder completar sua história, não perdeu tempo:

- Não, seu Lourenço, eu liguei, mesmo, é porque eu liguei direto.